Educação Artística

“Cada um possui a faculdade de aprender e o órgão destinado a esse uso, semelhante a olhos que só poderiam voltar-se das trevas para a luz, deve voltar-se com toda a alma para o que há de mais luminoso no ser, aquilo a que chamamos o bem! A educação é a arte que se propõe a este objectivo. Não em dar a vista ao órgão, que já a tem, mas encaminhá-lo na boa direcção.”

(Platão in <A República>, Liv. VII)

Robert J. Saunder no artigo The Art Specialist and the Classroom Teacher (National Art Education Association, Art Education, Vol. 17, No. 7 (Oct., 1964), pp. 4-7) defende que independentemente das várias tarefas necessárias inerentes a um professor enquanto facilitador de arte, educador artístico, especialista artístico, consultor de arte, etc – a verdade é que a função de professor de arte exige uma formação de arte específica e uma formação geral sobre a educação de crianças no seu processo artístico. Para Robert J. Saunder o especialista de arte é num determinado momento um professor em sala de aula, um educador de outros professores, e um consultor dependendo das necessidades do professor de sala de aula e das crianças com quem lida. Estas necessidades não se limitam apenas às técnicas artísticas, mas deveriam ser determinadas por qualquer problema que um processo de arte criativa pode indiciar como uma resposta a este mesmo problema. Saunder, à semelhança de Herbert Read, afirma que se o fim da arte consiste na educação e desenvolvimento da criança logo a arte deverá influenciar todos os aspectos do crescimento da criança, como por exemplo, o desenvolvimento estético, o desenvolvimento da capacidade física e motora, a comunicação verbal, os conceitos da moral, a capacidade imagética e a capacidade criadora e, por fim, a competência da comunicação visual.

Ser professor é uma profissão complexa que exige um vasto leque de competências, sejam elas de natureza social, psicológica, pedagógica como específicas na sua área de ensino.

Robert Lowe, também defende a importância do professor artista no panorama da Educação Artística (The Artist-as-Teacher; Robert Lowe; Art Education, Vol. 11, No. 6 (Jun., 1958), pp. 10-19; National Art Education Association). Lowe desmistifica a ideia do professor-artista frustrado. Encontra na vocação de ambos, isto se considerarmos que existe um vocação, alicerces em comum. Começa por dizer que é perturbante a seguinte afirmação: “The artist and the teacher, being two different things, cannot be the same thing”. Para Lowe, cada vocação4 tem os seus compromissos, objectivos, perspectivas e relações para determinados contextos culturais. No entanto, isto não significa que não sem complementem. As dificuldades que surgem nesta dupla função devem mais às exigências de ambas as práticas e também ao papel do professor-artista que se sente continuamente dividido como um mediador e decisor se tratasse sobre a atenção a despender às suas duas funções. Na reflexão que faz sobre o confronto das dificuldades que o professor-artista experiência neste compromisso da sua dupla missão, vem questionar sobre a possibilidade de conceber uma nova e indefinida vocação que pode ser encontrada num único conjunto de compromissos funcionais onde ambas as funções são criativas e servem como instrumentos didácticos de uma só vez – será? Se existe essa vocação Robert Lowe propõe-se a descobri-la e chamar-lhe-á a vocação de “artist-as-teacher”. Para Lowe, a resposta está no facto de acreditar que a proximidade destas duas formas de ser reside no nosso inconsciente onde todos os impulsos da vida despertam. Afirma que estas duas missões convergem numa única raiz onde para ambas as actividades a vocação educativa e a artística têm “voyages” similares pelo desconhecido que jaz mais à natureza pessoal do auto-conhecimento e auto-exploração. Acredita que as exigências da educação e da criação partilham o mesmo princípio. Somente quando este impulso combinado entre duas forças se separa na vida consciente para o campo da acção humana é que verdadeiramente se separam as diferentes vocações/missões. Acrescenta ainda que se a sua convicção diz que ambas as missões partilham a mesma raíz logo a separação de ambas as vocações, do artista e do professor, têm sido equivocadas desde o começo.